Desfrutar
e depois não mais desfrutar. Falsa sensação de pertencimento, de ligação
ininterrupta. Olhares que não nos miram mais. Sensações únicas, mas
simplesmente momentâneas.
Perder
é preciso para poder capturar imagens e sensações com mais desejo, com mais
saudade? Apenas no escuro, como provocado por um desfecho do obturador, que
conseguimos valorizar a última imagem, a última sensação?
Somos
hipócritas? Sentimos dó de quem não está mais conosco? Sentimos remorsos por
não termos aproveitado mais as
companhias, os momentos, a centelha de sensibilidade de cada indivíduo?
Refletir
sobre a morte é inevitável. Eu mesma já a desejei. Eu mesma já imaginei o choro
alheio sobre meu caixão. A verdade é que morrer é muito fácil. Sentir remorso
também.
Nosso
senso de direção é facilmente alterado; já é delimitado. O reflexo que sentimos
perante o caos cotidiano nos limita, nos envia para sensações não esperadas.
Cruzamos caminhos aparentemente sem escolhas. Mas, por vezes, já havíamos
escolhido.
[Sim, eu penso que poderia ter sido
diferente. Sim, eu sinto remorso. Sim, eu gostaria de ter aproveitado mais.
Sim, eu te diria sim. Sim, eu cruzaria o tempo... Sim, eu tentaria... Sim...]
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