Noite tranquila aquela, com
estrelas cintilantes. Sem vento, apenas o ar fresco, um pouco gelado, como numa
madrugada do começo do outono.
Um cenário burguês.
Estávamos na cobertura de um edifício com dois copos de whisky ao nosso lado,
um para mim e outro para ela. Nos deitamos no chão como se ele fosse uma cama e
fizemos do céu o nosso teto.
Observamos duas luas
conversando. Seus dentes se deslocavam, mas não escutávamos o que ambas diziam.
Estávamos extasiadas;
encantadas com aquela cena. - Sobre o que
conversariam aquelas duas luas sorridentes?, questionamos. Parecia que uma
lua puxava a outra como se estivessem pendentes. Na verdade, parecia que
brincavam na gangorra.
Gargalhamos. Parecia que
fazíamos parte de um filme de Luís Buñuel. No fundo, gostaríamos que as luas
fizessem contato conosco.
Depois surgiram os vagalumes...
Aparecer e desaparecer, quando na verdade ainda se está lá. Marcar e desmarcar,
quando tudo o que é feito nunca mais será desfeito. Realizar uma ação e depois
esquecê-la, quando as consequências de qualquer movimento já existem. Provocar
um efeito e depois sumir com o efeito, como se fosse possível esquecer de algo
que resplandeceu.
- Somos pontos no universo, dizíamos. - Meras consequências de um erro qualquer.
Entre um gole e outro nos
esquecíamos da vida cotidiana. Ríamos do banalismo e das pessoas narcisistas.
- Sobre o amor? Rá! Que amor? O que é isso?
Uma pomba cinza estava
intacta, em cima de uma pequena estátua nos observando. - Mas pombas alcançam os edifícios? Pombas são noturnas?
Poderíamos questionar tudo
ao nosso redor e nunca concluiríamos nada. Essa era a sensação!
E no silêncio e estaticidade
em que nos encontrávamos, vimos um triângulo azul vindo do céu se aproximando
de nós. Ele se aproximava, aproximava... e sua luz aumentava... Aos poucos, um
mantra era repetido OWN... ALIZÁÁ... OWN... ALIZÁÁ... OWN... ALIZÁÁ...
RATATÁ...
O triângulo nos sugou,
talvez para uma outra imaginação...
Texto dedicado a Lilian Brilhan.
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